Trabalhos Científicos
Uso de PDRN (Polidesoxirribonucleotídeo) e Exossomos no Tratamento de Feridas Agudas e Crônicas: Avanços e Perspectivas
Resumo
O tratamento de feridas agudas e crônicas representa desafio clínico relevante, exigindo soluções que acelerem a cicatrização e minimizem sequelas. Neste contexto, o PDRN – polímero de DNA derivado de salmão – e os EXOSSOMOS – vesículas extracelulares liberadas por células-tronco – têm sido investigados por suas propriedades regenerativas. Estudos experimentais e clínicos indicam que o PDRN estimula a expressão de fatores de crescimento (como VEGF) e a proliferação de fibroblastos, melhorando a reparação tecidual. De modo semelhante, exossomos modulam a inflamação e promovem angiogênese e migração celular em todas as fases da cicatrização. Em pacientes cirúrgicos, injeções de PDRN no pós-operatório recente reduziram o eritema e a formação de cicatrizes hipertróficas, enquanto estudos de caso em cirurgia plástica sugerem que exossomos pós-operatórios aceleram a cicatrização e reduzem o escurecimento cicatricial. Por meio de revisão bibliográfica, sintetizamos os achados mais recentes sobre o uso de PDRN e EXOSSOMOS em feridas (agudas, crônicas e pós-operatórias), destacando seus benefícios (angiogênese, regulação inflamatória, síntese de colágeno), limitações atuais (padronização de dose, produção e regulação). Conclui-se que ambas as terapias são promissoras, mas necessitam de mais ensaios clínicos.
Palavras-chave: PDRN; exossomos; cicatrização de feridas; feridas crônicas; regeneração tecidual.
Introdução
A cicatrização de feridas é um processo biológico complexo, dividido em fases de inflamação, proliferação e remodelamento, essencial para restaurar a barreira cutânea. Feridas crônicas (como úlceras diabéticas) e pós-operatórias de difícil cicatrização impõem alto ônus à saúde pública, demandando terapias inovadoras. Nos últimos anos, agentes regenerativos como o polidesoxirribonucleotídeo (PDRN) e exossomos têm emergido como alternativas terapêuticas promissoras. O PDRN, obtido do DNA de espermatozoides de salmão, demonstrou propriedades angiogênicas, anti-inflamatórias e promotoras da síntese de colágeno. Já os exossomos, pequenas vesículas extracelulares secretadas por células-tronco, carregam microRNAs e proteínas bioativas que favorecem a regeneração celular. Estudos reportam que exossomos de células-tronco mesenquimais reduzem a inflamação, aumentam a deposição de colágeno e aceleram a formação de tecido de granulação em modelos experimentais. Esses avanços sugerem aplicações clínicas potenciais no contexto de feridas agudas e crônicas, incluindo feridas pós-operatórias (onde a rápida cicatrização e a prevenção de cicatrizes hipertróficas são desejáveis).
Metodologia
Realizou-se uma revisão bibliográfica integrativa em bases indexadas (PubMed, Scopus, SciELO) até janeiro de 2025, selecionando artigos originais, revisões sistemáticas e diretrizes sobre PDRN e exossomos no tratamento de feridas. Critérios de inclusão abrangeram estudos pré-clínicos e clínicos relevantes publicados nos últimos 10 anos. Os descritores utilizados incluíram “PDRN”, “polydeoxyribonucleotide”, “exosomes”, “wound healing” e variantes relacionadas, em português e inglês. Após triagem por título e resumo, os trabalhos selecionados foram analisados em texto completo, e os principais achados sintetizados qualitativamente. A revisão seguiu modelo narrativo sistematizado, enfatizando evidências robustas e consenso científico atual.
Resultados
Os estudos revisados apontam que o PDRN age via ativação do receptor de adenosina A₂A, aumentando a síntese de VEGF e colágeno e promovendo a proliferação de fibroblastos. Em modelo experimental de úlcera diabética, tratamento com PDRN acelerou a reepitelização e fortaleceu a ferida, mediado pela elevação de VEGF e pela supressão de citocinas pró-inflamatórias. Em pesquisa pré-clínica com animais diabéticos, observaram-se fechamento de feridas significativamente mais rápido e melhor vascularização em comparação a controles. Clinicamente, Kim et al. (2023) demostraram que injeções subcutâneas de PDRN em pacientes após tireoidectomia reduziram o escore de Vancouver na cicatriz, principalmente no quesito vascularização, e diminuíram o eritema e a altura da cicatriz após 3 meses. Outro relato de caso encontrou completa cicatrização de ferida crônica refratária após três aplicações de PDRN em paciente amputado, ressaltando efeitos protetores sem eventos adversos.
Os exossomos de células-tronco, por sua vez, têm mostrado regular todas as fases da cicatrização cutânea. No metaestudo de Prasai et al. (2021), envolvendo 51 estudos pré-clínicos, os exossomos apresentaram maior efeito terapêutico no 7º dia pós-aplicação, promovendo angiogênese e deposição de matriz extracelular, com consequente aceleração do fechamento de feridas. Estudos adicionais indicam que exossomos estimulam a polarização de macrófagos para fenótipo M2 (anti-inflamatório), aumentam a expressão de colágeno I/III e fatores de crescimento em queratinócitos e fibroblastos, modulando positivamente a remodelação tecidual. Em aplicação clínica inicial, Yi (2024) relata casos em que pacientes de cirurgia plástica receberam exossomos tópicos/exógenos no pós-operatório, observando-se melhoria significativa na textura da pele, redução de inchaço e hipertrofia cicatricial. De forma geral, tanto PDRN quanto exossomos mostraram serem bem tolerados, sem toxicidade significativa relatada.
Discussão
Os resultados apontam benefícios claros de PDRN e exossomos na cicatrização de feridas. O PDRN destaca-se por sua ação pró-angiogênica e moduladora inflamatória, consistente com seu mecanismo via adenosina A₂A. Em feridas crônicas, a capacidade do PDRN de estimular VEGF e reverter respostas inflamatórias patológicas favorece o fechamento de úlceras, como observado em modelos diabéticos e em tratamentos de úlceras de pressão. No entanto, a eficácia clínica depende da forma de administração (geralmente injetável) e ainda carece de grande número de ensaios controlados. A pesquisa de Kim et al. (2023) mostrou benefício em ferida cirúrgica, mas ampliou-se pouco para outros tipos de feridas ou seguimentos mais longos. Além disso, a qualidade e estabilidade das formulações comerciais (como Rejuran® e Placentex®) requerem regulação rigorosa, visto que fatores como peso molecular do PDRN e pureza podem variar.
Os exossomos oferecem vantagens de serem imunologicamente inertes e capazes de penetrar tecidos, funcionando como veículos naturais de sinais regenerativos. Em modelos de feridas agudas e crônicas, foi observado que exossomos de diferentes origens (adiposa, cordão umbilical) aumentam angiogênese e proliferação celular, acelerando a cicatrização. Do ponto de vista clínico, casos em cirurgia plástica sugerem redução de inflamação pós-operatória e cicatrizes melhoradas. Há desafios operacionais, como o isolamento padronizado de exossomos e garantir dose eficaz. Estratégias inovadoras (exossomos “engenheirados”, carregados com fatores específicos) estão em desenvolvimento. Um aspecto crítico a ser estudado é a integração dos exossomos com biomateriais (como hidrogéis) para liberação controlada e aplicação no leito de feridas.
Uma limitação comum é a transposição dos resultados pré-clínicos para a prática médica. Muitos estudos sobre exossomos ainda usam modelos animais, e a farmacodinâmica em humanos pode diferir. Além disso, tanto PDRN quanto exossomos precisam ser integrados a protocolos de tratamento padrão; por exemplo, combinar com curativos avançados, terapia de pressão negativa ou enxertos. Quanto à segurança, o PDRN mostrou perfil bom (devido à alta pureza de DNA de salmão) , e os exossomos, por serem não proliferativos, evitam riscos de tumorigênese relatados em terapias celulares. Porém, eventos adversos em longo prazo ainda não são totalmente conhecidos. Por fim, a evidência científica atual é limitada e heterogênea, o que exige cautela. No cenário pós-operatório, ambos agentes têm potencial complementar: PDRN poderia ser utilizado logo após sutura para reduzir inflamação inicial e cicatrizes, enquanto exossomos aplicados topicamente poderiam favorecer regeneração sem distúrbios imunológicos. Estudos futuros devem investigar protocolos integrando essas terapias em cirurgias de grande porte (como abdominais ou ortopédicas) e quantificar ganhos na qualidade da cicatriz e na função tecidual.
Conclusão
PDRN e exossomos emergem como promissoras abordagens terapêuticas no tratamento de feridas agudas, crônicas e pós-operatórias. Ambos demonstram capacidade de modular positivamente a fase inflamatória inicial e de estimular a fase proliferativa da cicatrização, com aumento de angiogênese e síntese de matriz extracelular. O PDRN, em particular, tem evidências clínicas iniciais de redução de cicatrizes hipertróficas pós-cirurgia, enquanto exossomos mostram, em casos documentados, melhora da reparação pós-operatória com menor formação de cicatriz anômala. Entretanto, são necessárias evidências mais robustas: ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas sobre segurança, dosagem ótima e vias de administração devem ser conduzidos para confirmar esses benefícios. No momento, as terapias oferecem uma perspectiva promissora, mas ainda experimental. Em conjunto, PDRN e exossomos representam avanços relevantes na medicina regenerativa.
Referências
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AUTORES
Carlota Siqueira - Pós-Graduada em enfermagem em centro cirúrgico e central de material esterilizado, Pós-graduada em gestão hospitalar e de pessoas, Pós-graduada em anestesiologia, MBA executivo em gestão de pessoas, desenvolvimento gerencial e coaching, Pós-graduada em Estomaterapia, Pós-graduada em enfermagem, dermatologia e tratamento de feridas, Afiliada à Associação Brasileira de Ozonioterapia, Autora do livro "Avanços no Tratamento de Feridas Agudas e Crônicas”, Autora do livro "Avanços da Ozonioterapia no Tratamento de Feridas Agudas e Crônicas", Membro Associado Da SOBRACEL - Sociedade Brasileira de terapia celular e Medicina Regenerativa.
Arnaldo F. Korn- Membro da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética, Afiliado à Associação Brasileira de Ozonioterapia, Membro da Associação Brasileira de Enfermagem – SP, Membro associado da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Genética e Genômica, Pós-graduado em administração hospitalar, Formação em fitoterapia integrativa, Master em hipnose clínica, Autor do livro "Avanços no Tratamento de Feridas Agudas e Crônicas", Autor do livro "Avanços da Ozonioterapia no Tratamento de Feridas Agudas e Crônicas", Membro Associado Da SOBRACEL - Sociedade Brasileira de terapia celular e Medicina Regenerativa